terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Segue o teu destino

Nesse momento a poesia de Fernando Pessoa me traz certo sentido para que possa buscar forças no meu viver.

Segue o teu destino (Ricardo Reis)

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode Dizer-te.
A resposta Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Desejos de Final de Ano






Hoje eu tive a oportunidade de andar por um hipermercado próximo à minha casa e ver a maneira como as pessoas se preocupam com as datas comemorativas de final de ano. O mercado estava cheio, cheio de gente comprando um monte coisas para comerem em suas casas nesse natal. E eu realmente me questiono se todas as pessoas pensam no que estão fazendo, do porquê comemorar essa data. Não estou dizendo daquela historinha sobre o real motivo do Natal, aquela coisa do menino Jesus nem nada assim. Muito menos aquela outra que me soa como uma falsa crítica deste dia, que diz alguma coisa sobre as pessoas comendo e felizes, enquanto há um monte de gente por ai passando fome e tristes nas ruas, blá, blá, blá.
Essa história é como aquela que minha mãe e todas as mães do mundo contavam quando éramos crianças e não queríamos comer comida, falando que estávamos deixando comida no prato enquanto um monte de criancinhas passavam fome pelas ruas. Se eu tivesse alguma oportunidade perguntaria para minha mãe: Sério? Você realmente acredita nisso? Então quer dizer que tem um monte de gente morrendo de fome no mundo, só porque eu não quero comer 200 gramas de arroz com feijão? Então tá, se é para salvar o mundo e acabar com a fome mundial, pode dar a minha comida para eles ... Fala sério, né.
Bem, mas voltando a reflexão anterior eu acho que o Natal é uma boa data para confraternizar, estar perto das pessoas. É uma data de festa mesmo, compartilhar algo de bom. É mais pelo final de ano, tipo: mais um ano passou e eu to aqui feliz e compartilhando dessa felicidade com quem eu quero. É como se fossem dois Reveillons.
O que eu penso é como muitas dessas pessoas talvez não tenham nenhum motivo para comemorar, afinal a vida tá uma bosta mesmo, o ano foi sofrido, não gosto dessas pessoas que passarão essa data comigo ou mesmo gostando não é com elas que eu queria estar. Ás vezes as pessoas da mesma família não se suportam, ou não se entendem e aí tudo volta a ser a mesma merda no dia 2 de janeiro. Então comemorar o quê?
Enquanto a mim, eu só quero é encher a cara, realmente não tenho nenhum motivo para comemorar o final de ano. Eu estou triste, tô de saco cheio com a vida que levo. Não me sinto autêntico, não sou criativo, às vezes até duvido da pessoa que sou ou sobre o que estou fazendo. Questiono minha própria existência. Minha vida. Como estou infeliz comigo mesmo.
Para finalizar, ressalto as camisetas que vi nesse hipermercado que me fizeram pensar muito em um amigo querido, o Horácio, que pelo menos me fez rir muito quando lembrei dele. Diversas camisetas brancas, com escritos em prata ou dourado: SUCESSO, ALEGRIA, VIDA, LUZ, AMIZADE, FELICIDADE, PAZ, FELIZ 2009. Outras mais bizarras do que essas: FAMA, DINHEIRO, ÉTICA. E pensei: será que tem gente que compra isso mesmo? E logo respondi a mim mesmo: AAAhh tem. E comecei a me questionar sobre esses escritos e logo pensei: Deveriam ter outras camisetas, porque assim eu as compraria para usar, com escritos do tipo: CÚ!!! , MERDA!!! ou MERDA DE VIDA!!! PUTA QUE O PARIU!!!!! CARALHO!!!! BOSTA!!! FODA!!! GUERRA!!! FODA-SE 2009!!!! 2008 FOI UMA BOSTA!!! ... coisas do tipo, mas se tivesse uma com o escrito de CÚ já me bastaria, pois já resumiria muito da merda que me sinto agora. Pelo menos acho que o Natal podia ser mais real assim.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Chuva e o Sofrimento

“Havia muito sofrimento esperando ser resgatado por nós. Por isso, era também necessário olhar de frente a situação, a avalanche de sofrimento, apesar do perigo de alguém “amolecer” e, quem sabe, em segredo deixar as lágrimas correr livremente. Não precisaria envergonhar-se dessas lágrimas. Eram o penhor de ele ter a maior das coragens – a coragem de sofrer. Mas pouquíssimos sabiam disso, e só envergonhados admitiam ter-se extravasado em lágrimas. Certa vez perguntei a um companheiro como fizera desaparecer os seus edemas de fome, ao que ele confessou: “Curei-os chorando...”

Viktor E. Frankl – Em Busca de Sentido


Chove na cidade nesse momento. Meu sofrimento por estar longe de você salta no meu peito. Quero estar com você, quero te encontrar, mesmo que seja apenas para te ver, para te olhar, sentir que você ainda está aí.
Me desculpe, não quero negar o que eu sinto, mas preciso ficar sozinho por mais tempo, preciso não te encontrar. Preciso crescer, aprender com o meu sofrimento, vivê-lo, compreendê-lo, olhar para ele.
Queria aproveitar a chuva lavar o meu sofrimento, tirá-lo de mim, assim como se tira lama do corpo e aplacar esse calor sufocante.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A quem interessar




Inauguro este blog me fazendo um desafio pessoal de conseguir mantê-lo e expressar neste espaço minhas angústias, dúvidas e opiniões sobre tudo e qualquer coisa ou mesmo sobre nada. Nesse caminho manterei minha busca pelo sentido de existir e de como existir no mundo, sobre como ser no mundo.
Com isso, inicio aqui com uma frase de São Tomás de Aquino, parefraseado por Frei Betto em seu livro Gosto de Uva. Acredito que esta frase está diretamente ligada aos meus objetivos na criação deste espaço, como também com a minha vida nesse momento.

"Quanto mais vou ao encontro de mim mesmo, mais encontro um Outro que não sou eu, mas que, no entanto, revela a minha verdadeira identidade".