segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Saudade

Segundo o dicionário Michaelis, a palavra “saudade” é definida de tal maneira: “Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas.”


Diria eu então que saudade não é o que eu verdadeiramente sinto, ao lembrar de minha mãe. Não sinto nostalgia, não sinto suavidade, não sinto distancia, não sinto o passado.


Sinto o sofrimento, sinto a força deste sentimento de tristeza, sinto isso muito próximo de mim, do meu corpo, de minha cabeça, com as lagrimas esfriando o meu rosto quente. Não poderia dizer que tudo são em decorrência de lembranças de um passado, pois é fruto de um sofrimento presente.


Choro sim, como uma criança desamparada que se perde de sua mãe. Me perdi de minha mãe. Perdi minha mãe.


Não superei e minto ao dizer que me acostumei com o meu dia a dia sem ela. Faço de conta ao longo da vida que isso faz parte mesmo, mas quando rebaixo minha defesas e esquivas me lembro dela com uma intensidade incontrolável e sofrível. É como se eu estivesse envolvido em um grande e longo sonho, existem situações que me acordam para uma realidade dura e ver que é verdade sim, eu vi minha mãe morrer na minha frente, em seus plenos 53 anos que vi o brilho dos teus olhos se apagarem e eu e meu irmão nada pudemos fazer, a não ser derramar o nosso choro. É inacreditável.


Não há como não se culpar, não há como não pensar que poderia ter feito mais ou ao menos diferente e hoje ainda teríamos ela perto de nós. Ela teria entrado comigo em meu casamento, poderia desfrutar dos netos que um diria irão vir. Mas não, ela não está aqui e apenas a minha lembrança poderá ser transmitida a meu filhos da avó.


Faz um ano, um ano que me lembro de tê-la enterrado em um pedaço de chão, que preciso e quero muito ir, ao mesmo tempo que não quero e não preciso ver, pois nada lá me lembra ela a não ser o nome numa pedra. Eu quero minha mãe! É só o que essa criança dentro de mim pensa o tempo todo.


Meu sofrimento se esconde neste sonho, mas minha culpa vira e mexe emerge, mas não há mais como pedir perdão. Então me apego a um pensamento muito interessante que tive a oportunidade de conhecer no filme “Comer, rezar e amar”, muito interessante por sinal, recomendo. Mas o pensamento tinha algo a ver com o perdão, que o maior deles é necessário que seja realizado a si próprio, sendo assim, eu preciso me perdoar de alguma forma, sei que preciso, buscarei o meu perdão.


Enquanto isso, vou levando minha vida sentindo, sofrendo, com o sentimento que eu entendo como saudade, da minha forma, pois não sei se é possível descrever com palavras o que sinto a respeito disso.


Agora quero e preciso dormir, retornar ao meu sonho, pois logo meu olhos abrirão de novo.


Boa Noite!


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